fevereiro 09, 2008

A Um Ausente

Marte e Vênus, Alegoria da Paz, 1770 by Louis Jean François Lagrenée


Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral,
a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação,
o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso,
voz modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade
e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste,
porque te foste.

(Carlos Drummond de Andrade)

3 comentários:

Paula Barros disse...

Eu também sinto saudade. Sinto raiva do silêncio imposto. Das lágrimas que teimam em escorregar.
Sinto raiva do vazio. Da distância.
Sinto saudade.

MEHC disse...

A sua escolha de temas, de textos e de imagens é maravilhosa.
Pesado nada, Cris Moreno, pesada é a vida, às vezes!...
Bjos

Mari disse...

Bela imagem e poema. Parabéns amiga!
Bjs

O Que Sou:

Um misto de:
Fracasso e conquista,
Coragem e medo,
Brutalidade e fragilidade,
Vida e morte, mulher e bicho,
Sonhos e pesadelos.
Sou um fio de esperança.

"Um misto de fracasso e de conquista.
Um medo transmutado de coragem.
Tão frágil como a rosa que se avista.
Brutal no cinzentismo da paisagem.
Assim mulher e bicho me retrato.
Mesclando o pesadelo com o sonho.
E vivo de incertezas... e me mato.
Num fio de esperança que reponho."
(Jorge)

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