julho 17, 2006

Incapacidade

Sou mesmo imprestável. Cai na besteira de construir esse blog com finalidade de escrever, de criar. Que pretensão a minha, como pude esquecer da minha limitação e incapacidade. Mas ainda não vou desistir. Então vou continuar sugando a capacidade alheia.
A máquina do tempo
Minhas netas: Hoje eu sou velho. Mas já fui criança como vocês. E eu quero convidar vocês a dar um passeio pelo mundo do jeito como ele era quando eu era criança. Era um mundo muito diferente!Imaginem que eu convido vocês a dar um passeio no Jardim Zoológico. É muito simples. A gente pega um carro e vai até o Jardim Zoológico. É assim no mundo do Espaço. A gente vai de um espaço para outro viajando.Mas o mundo em que eu vivi não se encontra em nenhum lugar do espaço. Não é possível pegar um carro e ir até ele. O meu mundo de menino está no Tempo – um tempo que passou, que não existe mais. Para se ir para um Tempo diferente, carros e aviões não adiantam. É preciso um outro meio de transporte. É preciso embarcar numa Máquina do Tempo.Vocês nunca viajaram numa Máquina de Tempo? Pois vão viajar agora! A Máquina de Tempo está dentro da nossa cabeça. Ela se chama Imaginação. Quando vocês se lembram das últimas férias e dão risadas imaginando o que aconteceu, vocês estão viajando na Máquina do Tempo: vocês foram para o passado. O passado ficou vivo de novo nos seus pensamentos.Então, por favor: entrem na minha Máquina de Tempo! Tomem os seus lugares. Apertem os cintos porque vamos decolar – como os aviões decolam. Olhem com atenção para fora das janelas. Prestem atenção no mundo lá de fora, tal como ele é agora, o mundo em que vocês vivem. Quando começarmos nossa viagem na Máquina de Tempo ele vai desaparecer. Sabem por quê? Porque quando entramos no passado entramos num tempo em que elas não existiam. A prova de que estamos realmente viajando para o passado é o desaparecimento das coisas que existem e o aparecimento de coisas que não existem mais. Vocês já viram filmes de dinossauros. O mundo dos dinossauros é diferente do nosso. Lá não existem as coisas do nosso mundo – por exemplo relógios e bicicletas. Mas existem coisas que não existem no nosso mundo: plantas diferentes, bichos diferentes.Vamos decolar! Prestem atenção nas coisas que vão desaparecendo. Primeiro vão desaparecer as coisas grandes. Depois, as coisas da nossa casa. Finalmente, as coisas que nos pertencem.Vejam: os grandes prédios estão sumindo! Estão virando fumaça que o vento sopra até que desaparecem. É. No mundo da minha infância não havia grandes prédios. Agora é a vez dos shopping centers. Estão virando fumaça também e o vento está soprando. Vejam o vazio que fica no seu lugar, depois que o vento sopra a fumaça! Esfumaçam-se também os super-mercados.Você pode imaginar-se vivendo num mundo onde não havia shopping centers e super-mercados? Onde é que você iria fazer compras e passear?Milhões de garrafas de coca-cola, milhões de hamburgers, milhões de saquinhos de batatas fritas, milhares de McDonald’s! Tudo transformado em fumaça. Plástico: tudo se faz com plástico no nosso mundo: saquinhos, garrafas, canetas, copos, piscinas, barracas! Tudo esfumaçado.Epa! Isso também é demais! É o asfalto que está virando vapor. Sai dele uma fumacinha e era uma vez as ruas asfaltadas. Carros! Esfumaçaram-se também. As ruas sem asfalto estão vazias de carros. Como é possível viver sem carros? Ir de um lugar para outro – para a escola, para a casa das amigas, para a praia - sem carro? No mundo da minha infância não havia carros. No mundo da minha infância a gente usava muito as pernas. A gente andava. Andava tanto que não era preciso sair para dar caminhadas e nem andar em esteiras em academias de ginástica e clubes. E, por falar em clubes, veja! Também os clubes estão virando fumaça. E aquele enorme avião, levando mais de trezentos passageiros! Entrou numa nuvem e não saiu. Virou nuvem! Mas tem um aviãozinho voando solitário no céu! Aquilo não é um avião: é um aeroplano. Mas até o pequeno aeroplano virou nuvem. O tempo comeu até o nome.Prestem atenção agora. Minha Máquina de Tempo vai entrar na sua casa. Veja como as coisas vão desaparecendo. Desaparece, primeiro, a televisão. No meu mundo de criança as pessoas viviam sem televisão. Veja como o aparelho de som vai se transformando. Agora ele toca CDs. Esfumaçado, ele se transforma e passa a tocar discos de vinil. Mais esfumaçado ainda, vira um gramofone à manivela. Ah! Você não sabe o que é um gramofone à manivela? Um dia eu conto. E aí, então, até o gramofone some. Fica só a fumaça! Desaparece também o aparelho de rádio.Veja como sua casa está ficando vazia! Geladeira, fogão a gás, máquina de lavar roupa, forno de microondas, liquidificador, torradeira – tudo desaparece.Sem geladeira não há gelo. Sem gelo não há sorvete. É. Também os sorvetes viraram fumaça...Meu Deus! Isso não! Tudo, menos isso! Telefone, não vire fumaça! Eu te amo! Não posso viver sem você! Sem você, como é que vou conversar com minhas amigas? Como é que vou marcar encontros? Como é que vou namorar? Primeiro vai-se o telefone celular. Puff! Esfumaçado! Depois, os outros telefones. Mas, o que é aquilo pregado na parede? Tem um homem girando uma manivela e gritando! Aquilo era o bisavô dos telefones de agora. Mas nem telefones como aquele havia no meu mundo de criança.Tudo ficou escuro de repente. O que aconteceu? Foi a eletricidade que virou fumaça. Como você sabe, sem eletricidade não há luz elétrica. Mas não fique aflito. A luz vai logo voltar. Alguém vai acender uma lamparina ou uma vela. Graças a Deus havia fósforos! Mas, se andarmos mais para o passado vamos chegar a um tempo em que as caixas de fósforo também vão desaparecer. Como é que se fazia fogo sem fósforos? Como se acendiam as coisas? Quem sabe ainda vamos falar sobre isso!Sem eletricidade, sem luz, sem televisão, sem rádio, sem som, sem telefone: as noites deviam ser terríveis! O que é que se fazia à noite? Onde está a esferográfica colorida que estava na sua bolsa? Tão fácil escrever com esferográfica. Acabou, joga fora. Compra outra. Pois ela sumiu. Era de plástico. E a sua bolsa? Sumiu também. Também era de plástico. Você veio nesta viagem sem sapatos? Veio de tênis? Onde foram parar os seus tênis? Sumiram também. Ah! Que vontade de mascar chicletes! Você tem um no seu bolso? Não está mais no bolso? Só tem uma fumacinha saindo do seu bolso? Vamos ao seu quarto de brinquedos. Epa! Que fumaceira! Deve estar havendo algum incêndio... Não. É que tudo se esfumaçou. Computador, vídeo games, bonecas, jogos comprados em lojas, bichinhos eletrônicos...Que coisa poderosa é o Tempo! Andando para trás o mundo em que vivemos vai desaparecendo. É preciso que as coisas que existem agora desapareçam para que as coisas que existiam naquele tempo apareçam! A imaginação nos faz ver que outras formas de vida são possíveis. O nosso mundo não é o único. E foi nesse mundo passado, quando não existiam as coisas que o progresso criou e que achamos que não podemos viver sem elas, que coisas maravilhosas aconteceram!Foi nele que viveram sábios como Buda, Sócrates, Jesus. Cientistas como Kepler, Galileu, Newton, Pasteur, Darwin, Mendel. Artistas como Miguel Ângelo, Rafael, Leonardo Da Vinci. Filósofos como Platão, Aristóteles, Descartes, Rousseau. Santos como São Francisco. Escritores como Esopo, La Fontaine, Shakespeare, Goethe, Camões, Machado de Assis. Músicos como Vivaldi, Bach, Mozart, Beethoven.Peça ao seu pai ou sua mãe ou sua professora para lhe contar estórias sobre esses homens. Se eles não souberem, que tratem de saber! Se nos programas da sua escola não houver lugar para se falar sobre esses homens, reclame com a diretora! Envie uma carta à secretaria de educação, reclamando! Você tem o direito de saber. Eles têm o dever de ensinar.Que coisa fascinante essa: que tantas coisas maravilhosas tenham surgido nesse mundo passado tão vazio daquelas coisas que nós achamos indispensáveis para viver! Talvez não sejam tão indispensáveis assim! (Correio Popular, Caderno C, 21/01/2001.)
Que coisa fascinante essa: que tantas coisas maravilhosas tenham surgido nesse mundo passado tão vazio daquelas coisas que nós achamos indispensáveis para viver! Talvez não sejam tão indispensáveis assim! (Correio Popular, Caderno C, 21/01/2001.)

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O Que Sou:

Um misto de:
Fracasso e conquista,
Coragem e medo,
Brutalidade e fragilidade,
Vida e morte, mulher e bicho,
Sonhos e pesadelos.
Sou um fio de esperança.

"Um misto de fracasso e de conquista.
Um medo transmutado de coragem.
Tão frágil como a rosa que se avista.
Brutal no cinzentismo da paisagem.
Assim mulher e bicho me retrato.
Mesclando o pesadelo com o sonho.
E vivo de incertezas... e me mato.
Num fio de esperança que reponho."
(Jorge)

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