maio 19, 2009

Você e Eu. Eu e Você. Num Dueto de Quatro Mãos.


... E ele suspirava os últimos momentos quando o anjo
chegou e tocou, no cravo, a canção da ressurreição.
Felizes são as nuvens que passam brancas no limpo azul do céu,
Sem que o vento ou as gaivotas atrapalhem o seu passar.
No céu da boca; cortinas brancas na janela dos dentes.
Quarto palatal vermelho, envolvendo eles dois.
Um suspiro nasal, um gemido apertado e os corpos relaxados logo depois.


Um suspiro contido, um gemido guardado.
Num abraço apertado o beijo observado pelas
estrelas que estão
no céu... no céu da boca.

Estrelas reluzentes de três dezenas de dentes.
Que brilham no céu resplandecente da boca
de quem diz meu nome.

Estrelas que brilham.
Até em pleno sol do meio dia.

Escaldante, agonizante, a pino.
Sol colorante, bronzeante, latino.
Avermelha a pele da criança, menino,
confunde a donzela, sem medo,
sem tino, enquanto ele se excita
com o seu nu, tão lindo, divino.
Beijos roubados, atrevidos.

Tão simples, tão belo,
Puro como o corpo nu,
que quando ama,
transborda a beleza,
da união perfeita,
da donzela e do menino.
Beijo roubado tão qual o
do primeiro namorado.

O homem trabalha durante o carnaval, festa profana.
O menino olha, da fechadura e da fresta a moça despida
escrevendo versos.
O bumbo retumba o sincopado do samba e a moça
combina sentimentos em rima.
O homem sua os pêlos do peito escrevendo para os
amantes dos jornais, mas o menino, agonizando, olhando
a musicalidade dos seios da donzela e os versos que no
calor do colo dela saltam como pipoca, Para dentro ou
para fora da panela.

E o coração pula,
Como pipoca em óleo quente,
Explode em euforia,
O que era só semente,
Brota, floresce, desabrocha,
Dentro do coração... dessa gente.


Mexe, remexe como siri na cozedura,
entra vivo na água fria para morrer na frigideira.
Pula e pulsa sem dor no peito o sentimento pela
bela dona, com nome, beleza, emprego e filho,
mas medrosa por seu novo dono.


Não é medo que ela tem,
Ela só quer um alguém,
Quem não pertença a outrem,
Ela tem medo é da dor que nasce no peito,
Que às vezes rompe laços perfeitos,
Não tem medo do novo,
Não quer um dono, quer somente a cumplicidade.

Caudaloso desce o rio as corredeiras.
Varre as margens, escolhe a companheira,
leva consigo quem não reclama, esperneia.
Beija na boca, dentro de si embala louca a
vontade de comer, beber sem digerir.

O rio desce e vai contornando as suas margens,
Como mãos que deslizam pelo contorno do corpo
da pessoa amada.
Corpo que arrepia em pleno fogo, o fogo abafado
pelo beijo na boca, o desejo que devora a alma,
a loucura que sacia a fome,
Fome... do prazer.

Nua e molhada, em pêlo, deixa as águas da sereia.
Busca fora de casa o que beber e, tomar na sua boca
o que engolir.
Rasga em tiras a vergonha deslavada e nos lábios da
pessoa amada deixa o beijo antes, pra depois cuspir.
Revigorada, refeita volta ao mar, às raízes.
Molhada nas "entre coxas" desejosas meretrizes.
Satisfaz a vaidade com um prazer que ela não deu,
para se vingar do parceiro com um enorme gozo que
ela mesma se ofereceu.

Na descoberta do silêncio ela se redescobre,
e vai aprendendo que o prazer da alma vale mais
que o do corpo. Acha no íntimo do coração o
verdadeiro gozo. Procurar lá dentro o que em
vão procurou em outro coração.
Amar é deixar brotar o que já existe neles,
O outro é apenas o instrumento que desperta o
sentimento, enquanto isso ela vai amando o
que vai lá dentro.

Gozar ou não gozar, ela decides já
que a relação é da alma e do espírito.
O orgasmo é silencioso, como calado
choraminga o coração.
Abras os braços, o peito, os olhos ou as esperanças,
mas não tires o mérito da folha que espalmada,
levou aos lábios dela a mesma água que bebeste.


No gozo do amor há um segredo,
é a entrega do corpo e da alma,
que nasce da emoção,
no fogo do amor que inflama,
da união dos corpos na cama,
no encaixe mais que perfeito,
é puro, é terno, é desejo, é tesão,
é tudo que vem do corpo, da alma,
do coração.


Nua como a lua na escura noite fria e pousa o
corpo dela na agonia dele.
Nas longas pernas que por inveja se distancia da outra,
uma que fere o respeito e se entrega às carícias
levando consigo a primeira para em dupla,
se entregar aos desejos da pessoa mais bonita.
Arde nas entranhas o ferro em brasa que rasga,
fere, mas vicia, para se jogar por sobre elas inchado
enquanto amolecido nos teus pêlos, adormecia...

Os lábios se calam,
quando se unem a outros lábios.
O gozo que nasce do beijo molhado
nos corpos que ardem na entrega que
renasce. O silêncio quebrado Pelos
murmúrios que embalam a dança dos
corpos que entrelaçam no ato de amor.

Lábios frios do silêncio das palavras.
Corpo morto, com gelo, sem pêlos
dos carinhos dela.
Move os olhos despertos no desmaiar
do dia olhando a alma que segue
o caminho dela, sozinha, sem "Ele",
através dos vidros da janela.


O silêncio é quase prece,
O gelo não permanece
quando o amor aquece.
A partida dói, enlouquece.
Olhe dentro dos olhos dela e
pule, mergulhe pela janela, da alma,
se de fato ama, simplesmente diga:
FICA.


Pois, que fique!
Não dispense a chance de ficar.
Se antes não sabia dos direitos
e dos desejos que tinha,
esqueça a vaidade,
se insinue e audaciosa vá nua,
mesmo que nos sonhos, mas seja,
somente dele.


A vaidade dá lugar à loucura,
a loucura dá lugar à liberdade,
a liberdade permite sonhar,
a sonho busca à realidade,
realidade permite amar.
O amor adora a audácia.
A audácia desafia,
o desafio pede um corpo nu,
a nudez do corpo que arde,
arde repleto de vaidade.

..........e agora............

Você e eu, eu e você num dueto de quatro mãos
que pretendem, mas não se tocam, dois sexos
acesos de desejos, coesos num sonho transcendente,
que arde em chamas de um azul suave como a fina
lâmina de um adeus. Suas palavras são as suas como
as de quem busca um colo maduro, não tão duro,
como o colo que o bebê tem da sua mãe. São palavras
compassadas, calmas como calmas são as águas que
cobrem o único quarto de um lago na madrugada,
quando os peixes dormem e a lua, nua, vem banhar a
sua formosura para pura se deitar.
Imagino os seus versos sobrepostos aos meus delírios,
quanto brilho refletido nos olhos de quem,
como eu e você vivemos separados e tão juntos num
desejo de medo e de respeito que tiram a vontade
única de querer ter entre os braços o corpo do outro no
momento exato do tato e da pegada, do beijo e
da vontade de morrer se tudo isto fosse aquilo que
sonhamos, acontecer.

E o que sonhamos aconteceu.
Agora somente: Você e Eu.
Da união das quatro mãos,
Num dueto, do seu coração com o meu,
Deixamos aqui (em palavras) o fruto que nasceu.

17 comentários:

Anônimo disse...

Não sei como me atrevi a bulir com alguém com um nível intelectual melhor do que o meu. Reconheço em suas palavras e formalização de idéias a profundidade dos seus conhecimentos herdados provavelmente pela sua experiência de vida e também pelas horas dedicadas em ambientes de capacitação didática e literária. Este post pode ser pra mim, pra ele, pra ela ou pra qualquer pessoa que tenha nascido com veio artístico e enxerga beleza nas palavras assim como o pintor saboreia o espanto de quem sente suas vistas feridas pelas belas obras de sua aquarela.

Paula Barros disse...

Se duas mãos separadas já escreviam belos textos, e transmitiam maravilhosos sentimentos, a quatro maõs só poderia ficar uma obra de arte.

A imagem fala muito, gostei de olhar.

Do todo lindo esse trecho me chamou a atenção:
"desejo de medo e de respeito que tiram a vontade
única de querer ter entre os braços o corpo do outro no
momento exato do tato e da pegada, do beijo e
da vontade de morrer se tudo isto fosse aquilo que
sonhamos, acontecer"

abraços

blog do dudu santos disse...

PUXA!!SEM PALAVRAS...É DONA DE TODAS
BJO DO ARTISTA

iILÓGICO disse...

cbf!!!

não sei se você(s) percebeu(ram), mas em certas partes este texto dá um conto. Não sei se parece com Gabriel García Marquez...
pense nisto, pois tenho certeza que dará um belo conto...
se não... eu venho aqui beber.

bju-te!

Sonia Schmorantz disse...

Muito bonito! Se duas mãos já escrevem maravilhas, imagine estas quatro!
Um abraço

EDUARDO POISL disse...

Muito lindo o que escreve, imagina agora.
Obrigado pela visita.
Teu blogger ta lindo
Abraços

Menina do mar disse...

:) Eu sempre acreditei que eras capaz!
Beijos, conseguiste da melhor forma!
Adoro-te!

lili laranjo disse...

Já tinha saudades de passar por aqui...
um beijo

SE…

Se...
Se...
Se...
Já viste...
Que a vida é mesmo isso?...
Sempre se vive a interrogar...
Se...
Se...
Se...
E vamos interrogando...
Vamos perguntando...
E vamos tendo sempre...
Esta preocupação...
Se...
Se...
Se...
E com tantos...
Ses...
Vamos continuar a dizer...
Se...
Se...
Se...


Lili LARANJO

Cris disse...

Fantástico o texto! As palavras devidamente colocadas onde deveriam estar.

Bjo.

Sonia Schmorantz disse...

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

Autor: Paulo Santana

Um lindo final de semana!
Abraço

EDUARDO POISL disse...

A Amizade é...
O mais nobre dos sentimentos,
Cresce à sombra do desinteresse,
Nutre-se brindando-se e floresce
a cada dia com a compreensão.

Seu lugar está junto ao amor
Porque ela é também amor.
Somente os honestos podem
ter amigos, porque à amizade,
o mais leve dos cálculos a fere.

Como é um bem reservado aos
eleitos, é o sentimento mais
incompreendido e o pior interpretado.
Não admite sombras nem fingimentos,
rusticidade nem renúncias.

Exige no entanto sacrifício e coragem,
compreensão e verdade,
VERDADE! acima de todas as coisas.

Com as pequenas coisas
do dia a dia
cresce nossa amizade.
Desejo que sempre seja assim.

(Desconhecido)


Te desejo um final de semana com muitos amigos,amor e paz
Abraços do amigo Eduardo Poisl

Cleo disse...

Sem comentários, um show de mistura fina de sentimentos da alma.
Parabéns, parabéns não, bravíssimo prá você.
Beija-Flor, dediquei um selo pro teu blog, vá buscá-lo.
Beijos carinhosos e bom fim de semana.
Cleo

Branca disse...

Belo fruto nasceu desse poema a quatro mãos!!!

Boa semana pra vc...bjo!

Deusa Odoyá disse...

Olá minha doce amiga.
Desculpe minha ausencia, pois tive um tempo adoentada.
mas agora retornei com força total.
Lindo, fantástico conto.
Se com duas mãos vc. escreve divinamente, imagina com quatro.
Parabéns...
Uma semana iluminada de muitas estrelas, paz e amor.
beijinhos doces, minha amiga.
Regina Coeli.

lili laranjo disse...

só passei para um beijinho para ti...


AMIZADE

A amizade é uma coisa
Que chega e muitas vezes vai...

É difícil ficar...é difícil estar
Mas...olhamos e sabemos...

Sabemos que o amigo
És mesmo tu...

Que esperas por mim
E me levas contigo...

Não me deixas chorar
Pois choras por mim...

Estás sempre alerta
A qualquer hora me acodes...

E em todo o momento
Mesmo que não estejas...

Eu sei que estás...
Porque te sinto...AQUI!...

LILI Laranjo

Uma aprendiz disse...

Oi, linda

adorei.

beijos

silvioafonso disse...

.



No alto desta parede, quanto medo,
eu me agarro pra não cair.
Foi difícil a escalada, mas se
morro por descuido, já li e reli o
que você postou dos tempos em que,
juntos, você escreveu, eu escrevi.
Agora me vejo atento porque já
devo ir.
Desço devagar como devagar aqui
cheguei.
Enxugo os olhos e o sorriso, mas
no rodapé de nossas palavras, o
meu nome escreverei.

silvioafonso.






,

O Que Sou:

Um misto de:
Fracasso e conquista,
Coragem e medo,
Brutalidade e fragilidade,
Vida e morte, mulher e bicho,
Sonhos e pesadelos.
Sou um fio de esperança.

"Um misto de fracasso e de conquista.
Um medo transmutado de coragem.
Tão frágil como a rosa que se avista.
Brutal no cinzentismo da paisagem.
Assim mulher e bicho me retrato.
Mesclando o pesadelo com o sonho.
E vivo de incertezas... e me mato.
Num fio de esperança que reponho."
(Jorge)

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