dezembro 13, 2006

O Tédio


Toda terça-feira é dia de Sr. Brasil, como eu gosto desse programa, na verdade verdadeira é a única programação que me faz parar em frente de uma televisão, os outros programas eu só escuto e mesmo assim se tiver uma televisão ligada. Adoro o início do programa ele sempre conta um "causo", ontem não foi um "causo" e sim um poema, declamado como diálogo por Rolandro Boldrin acompanhado do Dr. Luis Altenfelder. Li recentemente um post da Jade e algo de comum tem, com o que abaixo segue:

Titulo: O Tédio
Autor: Henrique Hine ( adp. : Mendes de Oliveira )

Paciente: - Venho doutor, fazer-lhe uma consulta. A doença que me punge e esteriliza a mocidade e o espírito, resulta de uma chaga que nunca cicatriza. Muito embora comum a toda gente, a de que sofro, atroz hipocondria, tanto me torna pensativo e doente, que já não sei o que é paz nem alegria.
Sendo o mais sábio clínico do mundo, sois também um filósofo notável, do peito humano auscultador profundo, curareis este mal inexorável. Que me destrói o organismo fibra-a-fibra. Que me enevoa o cérebro e o condensa. Eu tenho um coração que já não vibra suporto uma cabeça que não pensa. Este tédio mortal, tédio agoureiro, que me envenena, que me escurece os dias. É como os beijos dado á dinheiro, numa noite de orgias.

Doutor: - O amigo tem razão, padece realmente. Contudo a infermidade, o morbus que o devora, é um produto fatal do século de agora. Uma emoção vibrante, um abalo violento, pode cura-lo creio. Apenas num momento. O tédio é uma sombria, uma fatal loucura. É a treva interior, a grande noite escura. Onde se esquece tudo. A sorte, a vida amada. O nosso próprio ser e só se lembra o nada. Diga-me. Alguma vez amou ? Nunca em seu peito estrugiu das paixões o temporal desfeito ? Como as vagas de um mar que se agita e encapela, ao soturno rumor do vento e da procela ?

Paciente: - Nunca.

Doutor: - Pois meu caro. Procure a agitação constante. Um prazer esquisito, um gozo triunfante. Já visitou a Grécia, o Oriente a Terra Santa ? Os sítios onde tudo hoje evoca e decanta, as glorias uma idade imorredoura e eterna, que amesquinha e deslumbra a geração moderna ?

Paciente: Em híbridos festins passei a mocidade. Percorri viajando, o mundo e a humanidade, como Judas da lenda. E entre as mulheres todas, cujos lábios beijei em bacanais e bodas, mulher nenhuma eu vi sobre a terra tamanha que para mim não fosse uma visão estranha. Como parti voltei. Sem achar lenitivo para este mal doutor. Que assim me trás cativo.

Doutor: - Frequente o circo, amigo. A figura brejeira do famoso Arlequim, que a esta cidade inteira palmas e aclamações constantemente arranca. Talvez lhe restitua a gargalhada franca.

Paciente: Vejo doutor, que o meu caso é perdido. O truão de que falas, o palhaço querido que anda no Coliseu assim tão aclamado, tem um riso de morte, um riso mascarado, que encobre a dor sem fim do tédio e do cansaço...sou eu este Palhaço.

4 comentários:

MEHC disse...

Adorei ler este texto, se bem que seja um tanto triste. Por vezes tive a impressão de estar a ler algum escrito do amigo Simão, pela forma tão apurada. Onde Vc desencanta coisas tão belas?
Abraço grande.

Codinome Beija-Flor disse...

Emilia,
Este texto ouvi no programa que falei chamado Sr. Brasil, que é apresentado pelo Rolandro Boldrin, vou colocar o site aqui para você olhar um pouquinho. O Rolandro Boldrin foi um grande ator, é também compositor e um contator de "causo" da melhor qualidade (na verdade é o meu favorito). Ele quando conta algo meio triste consegue me fazer vivenciar o "causo" em si, ele tem olhos azuis que ficam todos cheios de lágrimas é uma emoção unica. Tire um tempinho e olhe o site, eu já vou colocar o que vai direto nos textos, espero que goste.
Beijinhos
http://www.tvcultura.com.br/srbrasil/poemas.asp

Anônimo disse...

Eu conhecia o texto, pois que o ouvira declamado na voz de brilhante poetisa, no interior de São Paulo. É lindo, é triste... e às vezes é tão real!
À Emilia, que me proporciona as mais deslumbrantes viagens à Madeira Virtual, agradeço pelos (mais uma vez) imerecidos encômios.
Deixo a ambas meus amplexos afetuosos.

Codinome Beija-Flor disse...

Simão,
Às vezes somos exatamente assim.
Abraços

O Que Sou:

Um misto de:
Fracasso e conquista,
Coragem e medo,
Brutalidade e fragilidade,
Vida e morte, mulher e bicho,
Sonhos e pesadelos.
Sou um fio de esperança.

"Um misto de fracasso e de conquista.
Um medo transmutado de coragem.
Tão frágil como a rosa que se avista.
Brutal no cinzentismo da paisagem.
Assim mulher e bicho me retrato.
Mesclando o pesadelo com o sonho.
E vivo de incertezas... e me mato.
Num fio de esperança que reponho."
(Jorge)

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